A 5 de Outubro em autogestão?

20 07 2011

Adorava mesmo que Nuno Crato desse férias a todas chefias da 5 de Outubro com notificação para em 1 de Setembro voltarem para os seus lugares nas escolas se os tiverem ainda (ou se entraram na carreira técnica por via do cartão do partido que fossem pedir emprego lá no largo do Rato). É que já vi que com Nuno Crato ou sem Nuno Crato , tudo continua na mesma como se nada se tivesse alterado na pasta da Educação. Acho que o ministro fez muito bem em não se instalar na 5 de Outubro ou na 24 de Julho, fazendo as reuniões em instalações relacionadas com o ensino superior, já nem sei onde. Vai ser completamente impossível fazer uma reforma tão drástica como a que ele defende sem uma limpeza igualmente drástica no ministério e respectivos tentáculos, DREs e Equipas de Apoio às escolas. Mas deixar tudo para as autarquias parece-me coisa muito pouco viável e perigosa. O caciquismo já grassa nos serviços camarários qb. Se as escolas passam a contratar directamente os docentes, teremos  a família toda e amigalhaços do presidente de Câmara e mais a dos vereadores e respectivos amigos e conhecidos a ocupar os lugares de contrato a termo ou mesmo sem termo. Há muitas questões não explicitadas quanto à autonomia das escolas e não vai ser tão cedo que as vamos conhecer. Mas esta é uma questão muito mais fracturante do que a ADD. O modelo de avaliação externa era defendido por uma mínima minoria de professores (entre os quais a minha  pessoa, como poderei provar com um post algures no tempo, em 2007 ou 2008, mas que não vou procurar). Fiz declaração para acta na reunião de departamento (o de grupo- 6º e 7º). Agora, depois de todos os atropelos , depois do clientelismo ter grassado um pouco por todo o país a pleno vapor e mesmo descaradamente, depois dos surrealismos de grelhas e espetos vários,de metas quantitativas traçadas pela escola de redução do insucesso, impondo aos professores o medo e a cumplicidade com a falta de exigência nas classificações dos alunos, de aulas observadas por colegas sem maior habilitação para o fazer, com relatores a darem muito bons e a receberem eles próprios a nota de Bom por causa da quota, todas estas aberrações irão, quero crer , fazer com que muitos defensores da avaliação “inter pares” prefiram tudo menos isto que se passou, e se for avaliação externa , que o seja, só querem saber quem os vai avaliar. As ESE, sabendo que o seu “forte” são a treta das ditas “ciências da educação”? Quem avalia a parte da competência científica? As Universidades? A Inspecção Geral do Ensino? Ainda têm por lá inspectores capazes de avaliar as duas dimensões, a pedagógica e a científica?

Entretanto esta avaliação interna continua como se nada fosse… Parece que o governo ainda não tomou posse em matéria de educação.  Seria bom que Nuno Crato não perdesse tempo na limpeza da 5 de Outubro, 24 de Julho e outras ruas assim,   e consultasse aqueles  que conhecem a bicharada no ministério da educação e nas escolas. Escolhê-los (e ouvi-los pelo menos enquanto consultores) na blogosfera, nos blogues mais representativos  dos professores na oposição a MLR e Sócrates (que foi o verdadeiro ministro da educação do segundo mandato do PS) talvez fosse boa ideia, embora haja pessoas avessas a aceitar certo tipo de responsabilidades, o que é pena.

Quanto ao Ensino Superior, terá Nuno Crato uma ideia do elefante branco, ou rosa ou às riscas que tem pela frente? Ou seja, já olhou para a festa de despesismo que tem grassado no ensino superior politécnico, o clientelismo no recrutamento e promoções de docentes , o dinheiro distribuído por amigos e conhecidos com empresas fornecedoras, por ajuste directo, ou concurso duvidoso? Tem uma ideia de como reformar drasticamente o ensino superior politécnico e enfrentar a mafia respectiva?