via Cecílio Gomes da Silva: o que não é “lixo” na floresta portuguesa
Meu pai, Cecílio Gomes da Silva, escreveu vários artigos para o dia da árvore que, por coincidência, ou talvez não, era também o dia do seu aniversário. Em um dos seus manuscritos, que penso ter sido enviado para o Expresso (terei ainda que conferir se de facto o enviou e se foi ou não publicado) intitulado: «A floresta Portuguesa. “lixeira nacional”?! » ( não tenho a data mas meu pai faleceu em Novembro 2005 deve ser anterior a 2005 ou de Março desse ano) ataca veementemente uma certa ideia de “ limpeza” das matas. Obviamente que louvaria todas as iniciativas de limpar as matas de “lixo autêntico”, ou seja, os detritos não biodegradáveis que muita gente sem escrúpulos atira para as florestas.
Apenas reproduzo aqui e hoje dois pequenos parágrafos com a ideia fundamental a respeito de um espécie de “lixo” que o não é e não deveria ser tratado como tal.
“[…]E chegou a ocasião de esclarecer este brando povo do que querem dizer (os tais “cientistas”), quando falam das “porcarias” que sujam as matas, os tais “lixos” que não sendo varridos, fazem arder as florestas e dificultam o combate ao fogo. Gostaria de saber se para combater o fogo há necessidade de se meterem pela floresta dentro, tal como perguntaria se, para combater o fogo num armazém cheio de palha , se meteriam pelo “palhal a dentro. Pergunta tola, mas já dizia a criança do conto, que “o Rei vai nu”.
Poderia sintetizar dizendo apenas que aquelas “imundícies” que sujam as matas são uma componente fundamental e inerente a uma floresta – o seu sub-bosque, constituído por vários estratos, sob o dossel do estrato arbóreo que, no caso português, é constituído por pinheiros, carvalhos, sobreiros, castanheiros, azinheiras, freixos, vimeiros, amieiros; até mesmo no primeiro caso, “o pinhal”, tem sempre a “sujá-lo” grande número destas espécies. Não se inclui nesta lista a “talhadia de eucalipto”, pois que não se trata de uma floresta, mas sim de uma exploração intensiva de lenha (produto principal constituído por material lenhoso com diâmetro inferior a 20 cm). Como tem uma revolução muito curta (10 a 12 anos) não tem tempo para ficar “suja”, embora também arda e de que maneira!
PS: é óbvio que ninguém com o mínimo de bom senso deveria escolher viver dentro de uma floresta. Mas à floresta o que é da floresta , ao urbanismo o que é do urbanismo, digo eu.