No blogue “Educação do Meu Umbigo” . Debate interessante que mostra bem a pluralidade de opiniões dos frequentadores do blogue. Infelizmente, as pessoas que , como eu , acham que o professor não está ao mesmo nível do aluno e que defendem a disciplina através de uma penalização mais dura (é isso mesmo que eu estou a dizer, a escolaridade obrigatória não significa caos obrigatório), fazem como eu , em vez de lutarem por ser eleitas para lugares onde têm o poder (por exemplo, o cargo de director(a), preferem low profile nas escolas, escrever em blogues ou aposentar-se…. como eu).
E o poder continua nas escolas nas mãos dos “eduqueses” que tudo fazem para agradar a um certo tipo de “pais”, ou seja , aqueles que acham que o “pincolho(a)” tem sempre razão, o professor é um malandro, não ensina, balda-se etc… A canalhada do eduquês é de dois tipos: os que dão aulas com piadética a maior parte do tempo e matéria dada, talvez 1/3 do que deviam e dão altas notas (são avaliados de excelentes ou muito bons, os alunos adddoooooram-nos)e aqueles que se baldam mesmo, também com a cumplicidade dos alunos. Os eduqueses fazem alianças tácitas entre si para aniquilar tanto quanto possível os profs que exigem (às vezes minando , através da manipulação de alunos, o trabalho desses colegas). Isto não é tão raro assim, acontece muito, infelizmente… já vi fazer quando estava no activo e mesmo aposentada, ainda me chegam assim uns fumos do que se passa no “campo”… A propósito de campo, tenho que ir ali arrancar mais umas ervinhas e colher uns legumes…
Quanto ao uniforme, lembro-me de que a professora mais respeitada por mim e pelas suas alunas em geral ( no 3º ciclo da altura, ou seja o período correspondente ao 7º, 8º e 9º actuais) era a de ciências. Vinha sempre de bata, mas assim faziam todas as de ciências naturais, química, física, mesmo matemática, e ainda vejo fazer, actualmente, colegas dessas áreas).
Se a respeitávamos por causa da bata? Não! Era a exigência, a coerência , a justiça das notas e a avaliação, de facto, contínua, com as “fascistas” “chamadas” muito frequentes e de surpresa, que nos obrigavam a estudar a matéria diariamente e ter atenção nas aulinhas…mas havia mais qualquer coisa de imponderável , a sua personalidade, não andava sempre com ar de fada malévola, para isso havia outras, muito airosas, sorridentes, “simpáticas” e sem bata, mas quando chegava a hora de aplicar penas irracionais impostas pelo regime (decorrentes, por exemplo, da impossibilidade de faltar às aulas da “mocidade portuguesa” não se importavam nada de humilhar, aluno(a) e pais).
Na Índia os alunos têm que comprar os uniformes, caso contrário, não vão à escola. Algumas escolas oferecem os uniformes, há instituições que auxiliam nesse sentido. Não é o uniforme que vai impedir os alunos e respectivos pais de saber a casta de quem está por baixo da bata, mas o que interessa é o princípio, face à instituição escolar são todos iguais, não há castas. E há uniformes muito giros na Índia…. No meu tempo as batas eram pouco imaginativas e brancas e assim deviam ficar, caso contrário havia problemas… Tinham o emblema com a turma e número. Estas coisas são típicas de um certo tipo de ensino, concordo. E não é por aí que as cabeças mudam, com bata ou sem bata, no meu tempo, nas aulas das profs que não se impunham o regabofe era grande, não é de agora. Mas tinhamos problemas, a coisa sabía-se e apanhávamos “raspanete”, por exemplo, lembro-me de uns vinte minutos de aula de discurso sobre o tema “ragabofe na aula de Inglês …ou Francês, já não sei” da tal prof de Ciências de que falei. Saímos envergonhadas (pois , era um liceu feminino). Nunca mais me esqueci desse discurso. Ela desafiou-nos e disse: “façam isso comigo que assim vejo a vossa coragem”, chamou-nos cobardes. E ficámos sem argumentos e mudámos comportamentos.
Havia uma coisa, irracional (?) e “fascista” :havia “pulso” na direcção , a então chamada “reitora”. Pessoa (para nós, de idade avançada) conservadora nos costumes, mas muito respeitada pelas alunas.
Chamem-me fascista se quiserem, mas posso dizer que os alunos na minha aula não vinham todos aprumadinhos e muito menos de burca. Entre aceitar um boné ou um cabelo à punk a diferença não é muita, e normalmente esses alunos nem me deram que fazer quanto a disciplina. Tinham aquela mensagem para dizer… deixei. Desde que não houvesse mais mensagens durante a aula. Vigilância? Muita, toda a vida, aprendi a escrever à egípcia ou seja, de lado, viráva-me subitamente a meio da fórmula ou qualquer outra coisa que estivesse a escrever no “fascista” e antiquado “quadro”. Depois fui aderindo aos acetatos, depois ao powerpoint. Um descanso, e eles adoram apontamentos. Floreados, actividades de grupo? Também fiz tudo isso, até aulas dei ao sol no recreio. Não muitas, claro, não dá para escrever direito nos cadernos em cima do joelho. Embore fosse diminuindo de ano para ano o meu grau de exigência sempre a mantive em nível razoável. Mas o eduquês foi tomando conta de tudo e de todos, os alunos chegavam ao décimo ano cada vez mais mal preparados, os objectivos tinham que se ir adaptando… adaptando …adaptando… até que… me aposentei.
Vantagem de já não haver batas no liceu de Lisboa* onde estudei e de onde me aposentei: não tive de entregar o uniforme, foi só esvaziar o cacifo.
PS*: Por coincidência irónica aí fui parar ao abrigo da mobilidade de titulares, ocupando uma vaga que me pareceu injusta, lugar que nem cheguei a “aquecer”. Estive apenas o primeiro período, nem o acabei,não foi possível. Foi a derradeira tentativa antes da decisão da aposentação. Infelizmente, a experiência estava a ficar cara demais (aluguei um apartamento em Lisboa) e uma turminha de profissional (a única do liceu e que por sinal já não existe) foi a gotinha de água, a saúde não me permitiu continuar, embora as outras duas turmas tivessem alunos muito interessados e trabalhadores, uma delas com alunos de nível muito bom, como há muito não tinha. Mas tive de ir embora, lamentando ter deixado esses “bons” alunos e os da tal turma, deveria talvez ter lutado também por eles, mas a saúde não deixou). Aposentei-me, como já disse várias vezes neste blogue, ao abrigo da lei da aposentação antecipada, com forte penalização, não fui pela via da incapacidade.
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