Um artigo no ano 2000, Cavaco Silva referiu-se às despesas do Estado como um monstro incontrolável. Parte desta caracterização devia-se à percepção de que há muito desperdício no Estado, e outra parte ao aumento contínuo na despesa pública desde que Portugal entrou na CEE em 1986. O Estado consome hoje mais de 8700 milhões de euros, mais do dobro em termos reais do que há 23 anos. O número acima refere-se ao consumo público. Num ano, os recursos disponíveis num país são iguais ao que produzimos mais o que importamos menos o que exportamos, e podem ser usados para consumir ou para investir. Uma medida do tamanho do monstro é a parte do consumo feito pelo Estado. Não inclui o investimento público nem as transferências; quando o Estado tira a uns para dar a outros, em impostos, subsídios, e assistências variadas, não gasta recursos, limita-se a redistribuí-los. Esta medida está bem abaixo das despesas totais do Estado, porque mede só os recursos que são devorados pelo monstro. […]»
Não tenho o estudo completo mas a frase destacada a negrito assusta um pouco quanto ao rigor do mesmo. Talvez seja só gralha…
Só deixo como comentário umas perguntas:
Terão sido tomadas em conta as alterações à forma de cálculo das contas Nacionais de 95 que alteram os sistemas de cálculo de 79 e depois as alterações de 2000? E as posteriores nomeadamente no cálculo do déficit orçamental?
Nota: Já comprei o jornal i de hoje com as reacções. Ainda não li. Posteriormente actualizarei mas não consegui o jornal de ontem. Tive que actualizar o post várias vezes para que o quadro seguinte fosse legível. Entretanto devo dizer, a respeito da frase destacada no texto, que se não foi gralha o autor fez um raciocínio circular uma vez que aquilo que produzimos é o somatório dos VAB (valores acrescentados) que já vem deduzido das importações. Os “recursos disponíveis” para o autor são os bens (de consumo e de investimento) que estão cá dentro. Mas que afinal não deveriam estar, pois, dessa forma, o consumo das famílias e do Estado somados (mais o investimento) são bem maiores do que o PIB o que constitui precisamente a nossa desgraça estrutural. Ainda está para nascer um primeiro ministro democrata que reduza a zero o DÉFICE EXTERNO!
No INE temos este quadro:
Unidade: % | Unit: % | ||||
Despesa de consumo final em percentagem do PIB | Formação bruta de capital fixo em percentagem do PIB | Taxa de crescimento do PIB (real) | |||
Administrações públicas | Instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias | Famílias | |||
Portugal | |||||
1995 | 17,9 | 1,9 | 63,4 | 22,5 | x |
1996 | 18,2 | 2,0 | 63,2 | 23,0 | 3,6 |
1997 | 18,1 | 1,9 | 62,4 | 25,2 | 4,2 |
1998 | 18,3 | 1,9 | 61,6 | 26,5 | 4,8 |
1999 | 18,6 | 1,8 | 61,9 | 26,8 | 3,8 |
2000 | 19,3 | 2,0 | 61,9 | 27,1 | 3,9 |
2001 | 19,7 | 2,0 | 61,3 | 26,5 | 2,0 |
2002 | 20,0 | 2,0 | 61,1 | 25,0 | 0,8 |
2003 | 20,3 | 2,0 | 61,4 | 22,9 | – 0,8 |
2004 | 20,6 | 2,0 | 62,1 | 22,6 | 1,5 |
2005 | 21,4 | 2,0 | 62,8 | 22,2 | 0,9 |
2006 | 20,7 | 2,0 | 63,3 | 21,7 | 1,4 |
2007 Pe | 20,3 | 2,0 | 63,0 | 21,8 | 1,9 |
© INE, Portugal, 2008, Anuário Estatístico de Portugal 2007. Informação disponível até 30 de Setembro de 2008. |
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Fonte: INE, Contas nacionais. | ||||||
Nota: Os dados apresentados para o período 1995 a 1998 são dados das Contas de base 95 retropolados à base de 2000. |
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Anuário Estatístico 2007 (folha excel parte 2 (CapIII -01 a 07)
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